Inhambupe 129 Anos de Emancipação: Uma Festa Silenciosa para uma Cidade que Sonhava com Mais - David Gouveia Notícias

Última

6 de agosto de 2025

Inhambupe 129 Anos de Emancipação: Uma Festa Silenciosa para uma Cidade que Sonhava com Mais

 


Nesta quarta-feira, 6 de agosto de 2025 Inhambupe completa 129 anos de emancipação política. Um marco importante, que deveria ser celebrado com orgulho, memória e participação popular. No entanto, o que se viu foi uma comemoração apagada, sem brilho, sem cultura e sem alma — um retrato do esquecimento ao qual a cidade vem sendo submetida por aqueles que deveriam honrá-la.


A gestão municipal realizou apenas uma cerimônia simbólica, com a presença de alguns servidores e aliados políticos. Um bolo de mais de 6 metros foi servido como gesto isolado da celebração — tão simples quanto toda a programação. Nada de homenagens aos filhos ilustres, nenhuma valorização da história local, nenhuma iniciativa para integrar a população nessa data especial. Nenhuma apresentação cultural, nenhuma reflexão coletiva sobre os desafios do município.


É impossível não comparar com o São João milionário promovido há pouco mais de um mês. Naquela ocasião, a prefeitura investiu pesado: estrutura grandiosa, atrações nacionais, publicidade em massa — tudo regado a elogios ao gestor municipal. Parecia até um comício. Já o aniversário da cidade, que deveria exaltar as raízes e a identidade do povo inhambupense, foi tratado como evento de rodapé.


A pergunta que ecoa entre moradores e observadores atentos é: qual o valor da história de Inhambupe para seus governantes?


Uma história rica, antiga, e marcada por lutas, tradições e memórias que não podem ser apagadas por descaso institucional.


Inhambupe surgiu como tantas outras cidades da Bahia: fruto da catequese dos povos indígenas pelos jesuítas. Diz-se que, por volta do século XVI, durante o governo de Luís de Brito e Almeida, padres da Companhia de Jesus — possivelmente liderados por José de Anchieta — chegaram à margem esquerda do rio Inhambupe, onde encontraram uma taba indígena. Acredita-se que fossem índios da tribo Kiriri, que ocupavam o alto da colina onde hoje está o cemitério municipal.


Com a chegada dos colonizadores portugueses, liderados por Alexandre Vaz Gouveia, teve início o processo de ocupação e construção da vila. Em 1572, foi erguida a primeira capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição — uma obra histórica que, infelizmente, foi demolida anos depois, sem qualquer respeito ao seu valor cultural.


A vila cresceu entre os braços do rio Inhambupe, inicialmente cercada por águas, o que levou os indígenas a chamá-la de “Ilhãobupe”, junção de “Ilhão” (do português) e “Bupe” (do tupi), em referência a um cipó abundante na região. Com o tempo, o nome foi se transformando até chegar ao atual "Inhambupe".


Foi ali, no encontro das margens, entre a tradição indígena e a colonização portuguesa, que nasceu o povo de Inhambupe. Um povo forte, resistente, cuja trajetória foi marcada pela fé, pela agricultura, e pelas mãos que construíram esta terra com suor e esperança.


Hoje, 129 anos depois da emancipação política, o que resta é a sensação de abandono — da cultura, da memória, da participação popular.


Mais do que uma festa, o aniversário da cidade deveria ser um momento de reencontro com suas origens, de valorização da sua gente, de planejamento para o futuro. Mas a atual administração prefere celebrar a si mesma em festas que alimentam egos e palanques, enquanto apaga os símbolos que deveriam unir a população em torno do orgulho de ser inhambupense.


O povo merecia mais. Mais que bolo, mais que uma celebração na porta da prefeitura. Merecia ser lembrado como parte essencial da história que construiu esta cidade.


Inhambupe vive — apesar da frieza de quem deveria aquecer sua memória. Que os 129 anos sirvam ao menos para lembrar aos políticos: uma cidade não se governa com festas, mas com respeito à sua história.


Por: David Gouveia

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad

Responsive Ads Here