Muita
gente já deve ter visto anúncios, propagandas de títulos de
capitalização vendidos em nove estados. Quem participa do sorteio
concorre a um monte de prêmios, como carros e casas. Uma parte da
arrecadação deve, por lei, ser destinada a instituições de caridade. Só
que a Polícia Federal descobriu que milhões de reais estão sendo
desviados, e não chegam a quem mais precisa.
No
domingo (23), o Fantástico exibiu uma reportagem na qual rvela que os
investigadores descobriram um escândalo: que quem está tirando dinheiro
das instituições é um grupo de empresários, que vende títulos de
capitalização. Esses títulos eram vendidos em nove estados e davam
direito a participar de sorteios. Os títulos eram vendidos geralmente na
rua mesmo, por R$ 5 cada um.
No
caso dos títulos suspeitos, os empresários escolheram o Instituto Ativa
Brasil, de Belo Horizonte. A Polícia Federal afirma: a Ativa Brasil, na
verdade, fazia parte da fraude. O instituto tinha que distribuir o
dinheiro do título para pelo menos outras 26 entidades, em nove estados.
Até mandava um pouco, para não chamar a atenção. Mas de acordo com as
investigações, a maior parte do dinheiro era desviada.
“Fizeram
todo esse esquema para que o dinheiro, na verdade, nem chegue ao
destinatário final de forma completa, mas sim muito minguado”, ressalta
Marcello Diniz Cordeiro, delegado da PF. O Lar da Esperança, do Piauí, é
uma das entidades que recebiam um pouquinho de dinheiro do Instituto
Ativa. A Dona Graça, que também comprava as cartelas, lembra que a ajuda
para a instituição dela começou há três anos. “Eles perguntaram se a
gente tinha dificuldade. A gente falou que a nossa dificuldade eram as
faturas de energia. Aí, eles pagaram todas as atrasadas”, diz Graça
Cordeiro. Em três anos, o Lar da Esperança recebeu R$ 72 mil do tal
Instituto Ativa. R$ 2 mil por mês. Mas as investigações mostram que o
repasse correto deveria ser 25 vezes maior. Ao todo, R$ 1,8 milhão.
Fantástico: É muito dinheiro?
Dona Graça: Eu não sei o que é isso. Eu não sei. Sinceramente eu não tenho ideia do que é R$ 1 milhão.
Fantástico: O que a senhora faria com esse dinheiro? Dona Graça: Eu ia terminar de fazer essa construção. Arrumar essas portas, o forro, o telhado.
A
única ambulância que existia para transportar os pacientes não tem
maca, não tem banco. O assoalho todo enferrujado, com buraco. Os vidros
estão quebrados. E a sirene, destruída. E mesmo que a gente tentasse
entrar para dirigir o veículo, não tem como. A porta está emperrada, não
abre. Se recebesse o dinheiro certinho da ativa, Dona Graça também iria
reformar a ambulância. “Não
fiz só sepultamento mas fui buscar gente no interior, levei gente pro
hospital, para maternidade. Fez muita coisa boa. Medalha de honra ao
mérito para essa ambulância”, afirma Graça Cordeiro.
A
Polícia Federal fez as contas. Em um ano, cerca de 200 milhões de
bilhetes do sorteio foram vendidos em nove estados. Sabe quanto dá isso?
Cerca de R$ 1 bilhão. R$ 500 milhões, a metade da arrecadação, deveriam
ser repassados para as entidades assistenciais. A Polícia Federal
identificou todos os envolvidos na fraude: o presidente da Ativa e
quatro empresários: os irmãos Hermes, Cláudio, Júlio e Gustavo Paschoal.
Eles são os donos da empresa que vendia os títulos de capitalização. A família Paschoal construiu um império em Pernambuco, formado por empresas, apartamentos em áreas nobres, e carros de luxo.
Em 2012, os irmãos foram condenados a 3 anos de cadeia. Ganharam o direito de recorrer em liberdade. No
Recife, o Fantástico foi a três pontos de venda do título de
capitalização. Em todos, também dava para fazer uma fezinha no bicho. “A
única atividade exercida por eles hoje é a distribuição de títulos de
capitalização, através do Pernambuco dá sorte, que é o nome de fantasia
da empresa”, destaca Ademar Rigueira, advogado dos irmãos Paschoal.
Acusados
de comandar o desvio do dinheiro, os Paschoal e o presidente do
Instituto Ativa foram presos em uma operação da Polícia Federal, há 10
dias. R$ 350 mil em dinheiro vivo foram apreendidos. O advogado dos
irmãos Paschoal nega a fraude.
“Essas
pessoas não se apropriaram desse dinheiro nem deram outra destinação. A
destinação foi as entidades que se beneficiaram com a filantropia do
grupo ativa”, afirma Ademar Rigueira.
Segundo
a polícia, o dinheiro que deveria ser doado para as instituições
voltava para os irmãos Paschoal, seguia o seguinte esquema: os títulos
eram vendidos e parte da arrecadação repassada para a Ativa Brasil. O
instituto pagava uma outra empresa para fazer a propaganda dos sorteios e
gastava, com isso, quase todo o dinheiro que recebia. O detalhe é que
essa empresa de publicidade também pertence aos irmãos Paschoal. “Não há
nenhuma irregularidade nisso. E em nenhum momento, o grupo tentou que
isso não fosse mostrado aos órgãos reguladores. Tudo estava demonstrado
contabilmente e nos documentos apresentados”, explica o advogado dos
irmãos Paschoal.
Para quem investiga o caso, nada justifica tanto gasto com publicidade e tão pouco dinheiro para as instituições de caridade.
“Se
você tem uma previsão de despesa de divulgação, seria algo que iria
interferir mas não alterar substancialmente o valor destinado as
entidades. É muito dinheiro que está deixando de ir para as entidades e
sendo gasto com divulgação”, afirma Cristiano Machado, analista da
Superintendência de Seguros Privados.
“Eu ia melhorar a casa. Eu ia fazer esses quartos que estão precisando, quem sabe abrigar idosos”, diz Graça Cordeiro.
Além
do Lar da Esperança, da Dona Graça, o Fantástico foi a outras entidades
que deveriam receber o repasse dos títulos de capitalização.
Na
Bahia, a Associação Obras Sociais Irmã Dulce, uma das mais importantes e
conhecidas do Brasil, ganhava R$ 5 mil por mês da ativa. Segundo a
Polícia Federal, deveria receber R$ 125 mil mensais. Em Pernambuco, uma
creche comunitária, que fica numa área carente do Recife, ganhava R$ 3
mil por mês. O certo seriam R$ 75 mil, diz a investigação. Recentemente,
como faltou dinheiro para pagar as professoras, 20 vagas tiveram que
ser cortadas. Na Paraíba, a Ativa também mandava R$ 3 mil por mês para a
Apae, de Campina Grande. Para a Polícia Federal, nem perto do valor
correto: R$ 75 mil.
O
presidente da Ativa saiu da cadeia quinta-feira passada e vai responder
em liberdade. Em nota, o instituto disse que "não há irregularidades em
relação ao repasse financeiro às entidades filantrópicas" e que "toda a
movimentação está registrada nos livros contábeis, que se encontram à
disposição das autoridades”. Agora, a venda dos títulos de capitalização
da família Paschoal foi proibida. A Justiça também bloqueou R$ 100
milhões que estavam em contas bancárias.
(Bocão News)
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