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Frank La Rue foi um dos que assinou carta | Foto: Divulgação |
As leis e atitudes adotadas pelo governo para conter protestos sociais
nos meses que antecederam à Copa do Mundo e desde meados de 2013
violaram os direitos humanos e as liberdades fundamentais. Quem faz o
alerta é a ONU, que cobrou do governo brasileiro em uma carta sigilosa
uma mudança em seu comportamento. Mas não recebeu uma resposta do
Palácio do Planalto. O documento foi enviado ao governo brasileiro no
dia 4 de abril de 2014 e relatores da ONU exigiam explicações sobre a
aprovação de leis antiterroristas, prisões e atitudes do governo em
relação às manifestações. A entidade deu 60 dias para que o governo
desse uma resposta, na esperança de que ela viesse antes do Mundial, que
começou em 12 de junho. A carta de nove páginas, obtida pela
reportagem, é assinada por quatro relatores da ONU, algo pouco comum e
que reflete a dimensão da iniciativa contra o Brasil dentro das Nações
Unidas. O texto é assinado por Frank La Rue, relator para a Proteção à
Liberdade de Expressão, Maina Kiai, relatora para o Direito à Liberdade
de Livre Associação, Margaret Sekaggya, relatora para a Situação dos
Defensores de Direitos Humanos, e Ben Emmerson, relator sobre Leis
Antiterroristas. No documento, a ONU chama a atenção para os projetos de
leis naquele momento que estavam sendo discutidos sobre criminalizar
atos terroristas, como as Leis 728/2011, 499/2013 e 236/2012.

A entidade se mostrou especialmente preocupada com a Lei 728. "Ela
supostamente tem como meta fortalecer a segurança para a Copa das
Confederações de 2013 e para a Copa do Mundo", indicou. "Ela regula
greves em períodos precedentes e durante esses eventos, entre outras
medidas", alertou. "A lei ainda define o terrorismo como um ato para
provocar e disseminar o terror por meio de ofensas à integridade física
de uma pessoa ou a privação de sua liberdade, por razões ideológicas,
religiosas, políticas, raciais, étnicas ou xenófobas". Para a ONU, o
governo deve "facilitar o trabalho de ativistas de direitos humanos, até
mesmo evitando sua criminalização". "Estados precisam garantir que
qualquer medida tomada para combater o terrorismo cumpra com obrigações
diante do direito internacional". A ONU também critica as leis adotadas
que impedem a uso de máscaras em protestos. "Expressamos preocupações
sobre as limitações excessivas dadas pela lei, banindo coberturas de
rostos durante assembleias", advertiu a carta. "Tais medidas
desproporcionais podem ser usadas para focar em grupos particulares e de
forma indevida limitar seu direito à liberdade de se associar de forma
pacífica". Outra crítica foi tecida contra o fato de que a presidente
Dilma Rousseff sancionou a Lei 12.850 sobre organizações criminosas,
definindo as entidades e dando poderes para o acesso da Justiça a
ligações, e-mails, contas bancárias, lista de viagens e outros detalhes
de pessoas sob investigação.
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