7 de Setembro: Que independência é essa? - David Gouveia Notícias

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07/09/2010

7 de Setembro: Que independência é essa?

Historiador evidencia necessidade de resignificar conceito e contexto de um dos períodos históricos mais marcantes do País


Gritos, euforia, sentimento nacionalista e plena liberdade. Será que a nação conquistou sua autonomia no dia 07 de setembro de 1822? A tão sonhada independência do Brasil aconteceu nesse dia e pretendeu levar milhões de brasileiros ao destino da liberdade de expressão, bem como ao desprendimento de uma escravidão desenfreada e dependência socioeconômica. O dia da independência foi baseado no esteio político, por meio do qual D. Pedro I posicionou-se às margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, e, em seu tom mais ufano, exclamou ‘Independência ou Morte!’.

Em entrevista concedida à Gazetaweb, o professor de História Gustavo Pessoa, graduado pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), explicou a respeito do contexto da independência, onde todos os Países da América foram colônias no século XIX. O Brasil era a única colônia portuguesa. Durante o período inicial, segundo Gustavo, houve a implantação de um modelo econômico para viabilizar a produção açucareira, denominado Plantation, fundamentado no latifúndio e na monocultura. “Foi justamente este sistema social e econômico, aliado à escravidão, à monocultura agroexportadora e ao latifúndio, que permaneceu, mesmo após a independência do País”, afirmou.

O professor explanou que a independência viria à tona, mais dia ou menos dia, uma vez que já havia uma cultura nacionalista enraizada nos brasileiros, como também, fatores ligados à religião e à língua. “D. Pedro seria coroado Imperador para servir como instrumento político, pois asseguraria, exclusivamente, os interesses das elites”. A nação brasileira, de acordo com Pessoa, foi uma das últimas a proclamar a independência. Os EUA colocaram-se em primeiro lugar, em 1789.

“A partir da independência, não se registrava nenhum progresso de ordem econômica importante. Era o momento em que saíamos de uma esfera de influência portuguesa e entrávamos na inglesa, que deteria o monopólio de comércio no Brasil. Muitas coisas mudaram, também, com esse dia. Nós somos, hoje, uma das grandes potências industrializadas do mundo” - declarou Gustavo.

Quando questionado acerca de um Brasil independente, o historiador alegou que são necessários investimentos em recursos humanos, e, principalmente, na educação. “Precisamos de governantes que estejam dispostos a enfrentar fases coloniais que ainda persistem, como favelização, marginalidade, a desvalorização do negro e a falta de inclusão social”.

Didática do educador

Gustavo Pessoa afirmou que, no período antecedente à década de 80, o ensino voltado aos alunos baseava-se em uma mera assimilação do que ocorreu no dia 07 de setembro de 1822. “Antigamente, os professores introjetavam o acontecimento na mente dos alunos e não se produzia uma reflexão sobre disso. De 85 para cá, já se vê uma crítica por parte dos educadores e estudantes quanto a esta independência falseada. Vários lados da história são mostrados” – revelou.

Perda de tradição

Com relação aos desfiles, o educador relacionou a tradição antiga ao tempo atual, onde não se observa mais a efetiva participação de estudantes de escolas públicas e particulares percorrendo as avenidas da capital, com suas fanfarras e agitações ufanistas. “As caminhadas perderam o apelo popular. Eu me recordo, no interior da Bahia, dos desfiles que tomavam conta das ruas; vivenciava um momento de entusiasmo. Hoje, muitos movimentos sociais, como o MST [Movimento dos Sem-terra] e CPT [Comissão Pastoral da Terra] utilizam essa data para promover outra forma de discussão, a exemplo do grito dos excluídos. A tendência é que essa comemoração mude cada vez mais de figura” – concluiu.


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