Bolsonaro discursou em um caminhão de som na frente do gramado do Congresso Nacional |
Diante de milhares de apoiadores em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta terça-feira (7) um discurso de ameaças golpistas ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele disse que não aceitará que qualquer autoridade tome medidas ou assine sentenças fora das quatro linhas da Constituição.
— Ou o chefe desse Poder enquadra o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos — disse Bolsonaro em recado ao presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, em referência às recentes decisões do ministro Alexandre de Moraes contra bolsonaristas.
Além de Moraes, o ministro Luís Roberto Barroso, também presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é alvo dos ataques de Bolsonaro nas últimas semanas.
— Não podemos continuar aceitando que uma pessoa específica da região dos Três Poderes continue barbarizando a nossa população. Não podemos aceitar mais prisões políticas no nosso Brasil — disse o presidente, em um caminhão de som na frente do gramado do Congresso Nacional.
Na fala em Brasília, repetiu várias das ameaças e dos ataques ao STF e a seus ministros que têm feito nas últimas semanas, como uma forma de convocar seus apoiadores para esses atos.
— Temos na nossa bandeira escrito ordem e progresso. É isso que queremos, não queremos rupturas, não queremos brigar com Poder nenhum, mas não podemos admitir que uma pessoa tulha a nossa democracia, não podemos admitir que uma pessoa coloque em risco a nossa liberdade — disse sobre Moraes.
Bolsonaro fala em reunião com Poderes
Ainda em seu discurso, Bolsonaro disse que nesta quarta-feira (8) terá uma reunão com os chefes dos demais Poderes.
— Amanhã [quarta-feira] estarei no Conselho da República juntamente com ministros para nós, juntamente com presidente da Câmara [Arthur Lira], Senado [Rodrigo Pacheco] e do Supremo Tribunal Federal, com esta fotografia de vocês mostrar para onde nós todos devemos ir.
Procuradas pela Folha de S.Paulo, as assessorias de Luiz Fux, que preside o Supremo, de Rodrigo Pacheco (MDB-MG), que dirige o Senado, e de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, disseram que não há previsão de reunião com Bolsonaro. Desconhecem qualquer convite neste sentido até agora.
Manifestações contra o STF
O ato em Brasília foi marcado por pautas autoritárias e golpistas e representam uma minoria no país. Pesquisa Datafolha de junho mostrou que 75% dos brasileiros consideram o regime democrático o mais adequado, enquanto 10% afirmam que a ditadura é aceitável em algumas ocasiões.
Uma longa mensagem amarrada em caminhões de manifestantes que furaram o bloqueio da polícia na madrugada diz que o grupos deixa Brasília quando a seguinte pauta for atendida: "Destituição de todos os ministros do STF".
No acampamento em frente ao Ministério da Agricultura há carta pedindo impeachment dos ministros do STF e voto impresso. "Pedimos que vocês, ministros, saiam, porque estamos no nosso direito. Zé Trovão nos representa", afirma placa de uma manifestante, que cita caminhoneiro foragido justamente por ataques às instituições.
Os manifestantes também gritam que "o povo é o Supremo" e dizem que "o povo chegou" em frente ao Itamaraty. Ali há barreira de policiais que impedem a ida dos apoiadores de Bolsonaro até o STF. Outros manifestantes e caminhões pressionaram para romper o bloqueio da PM e invadir a pista que leva ao Congresso e ao STF.
Os eventos bolsonaristas ocorrem em meio a uma série de reveses para o governo, com reações de outros Poderes às ameaças autoritárias disparadas pelo Executivo, desembarque de setores do empresariado e do mercado, estagnação de pautas no Congresso e horizonte econômico negativo.
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