Foram sete sessões de julgamento em um dos júris mais longos do
judiciário paulista, superando até mesmo outros casos midiáticos como o
Nardoni, em 2010, que durou cinco dias.
O crime foi considerado hediondo porque, segundo entenderam os jurados,
ela utilizou meio que impossibilitou a defesa da vítima. Isso impediu
que a agora condenada saísse do fórum da Barra Funda de São Paulo (zona
oeste) com a possibilidade de deixar a prisão nos próximos dias.
Isso poderia acontecer se o crime tivesse considerado um homicídio
intencional simples, com pena mínima de seis anos (e máximo de 20) e
possibilidade de progressão após o cumprimento de um sexto da pena. Como
Elize já está presa há mais quatro anos, tem, assim, tempo suficiente
para pedir o benefício.
Considerado hediondo, a progressão só pode ser requisitada após dois
quintos da pena, porque não tem outros antecedentes criminais e tem bom
comportamento na prisão onde está, em Tremembé (no interior do Estado). O
hediondo tem pena mínima de 12 anos e tempo máximo de prisão de 30
anos.
Dessa condenação, um ano e dois meses foram pela destruição e ocultação
do cadáver. Crime que tanto a acusação quanto a defesa pediram a
condenação.
Sobre as outras qualificadoras, os jurados entenderam que ela não
utilizou meio cruel para cometer o crime e não foi motivado por motivo
torpe, como queria a acusação. Todos os placares, segundo os advogados,
foram apertados: sempre 4 a 3 para a tese vencedora.
Pesou na decisão dos jurados os argumentos do promotor José Carlos
Cosenzo de que uma condenação por homicídio simples seria muito benéfica
a ré. "Se vocês condenarem pelo homicídio estarão a absolvendo. Ela
sairá daqui do fórum na frente dos senhores", disse ele aos jurados.
"Todo o Brasil está aguardando a decisão de vocês", disse o promotor.
Depois da decisão dos jurados, ele disse que vai analisar se vai
recorrer. "Não ficamos satisfeitos", disse que queria uma condenação de
ao menos 25 anos.
A defesa disse que vai recorrer porque, segundo eles, a pena aplicada
pelo juiz Adilson Simoni foi excessivamente, ao contrário do desejo dos
jurados. "Ganhamos, mas não levamos. Essa é a sensação", disse Luciano
Santoro, um dos defensores.
Os debates entre defesa e acusação foram marcados pelas trocas de
farpas entre Cosenzo e a advogada Roselle Soglio. O promotor chegou a
chamá-la de louca, que pediria a interdição dela, enquanto a defensora
de Elize respondeu chamando de machistas e que fazia muitos gracejos,
para as pessoas rirem, a exemplo de um palhaço.
O julgamento foi marcado em seu último dia pelo interrogatório da ré
que, em cerca de quatro horas, contou como matou o marido e porque o
esquartejou. Alegou a bacharel de direito que não tinha a intenção de
matar o marido, mas, após discutir com ele sobre a descoberta da amante,
acabou sendo humilhada e levando um tapa no rosto.
Disse que decidiu esquartejar o marido ao tentar se livrar do corpo.
"Infelizmente, a única forma que encontrei foi cortá-lo", disse. "Eu não
podia ligar para minha sogra, pessoa que sempre me tratou com respeito:
eu dei um tiro no filho", disse ela.
Elize chorou muito ao recontar detalhes do crime e ao falar de sua família.
A disposição dos jurados com a ré pôde ser medida ainda na tarde de
domingo (4) quando um deles ao perguntar, por meio do juiz, baseada no
depoimento dela. "A senhora disse que está sendo crucificada [por falar
da distância do tiro]. Mas será que seu marido merecia ser
esquartejado?", disse.
"Nem ele nem ninguém", respondeu ela. "Infelizmente, eu não posso
voltar no tempo. Se pudesse, voltaria", completou em outra questão.
DEPOIMENTOS
Dezesseis testemunhas foram ouvidas, tanto da defesa quanto da
acusação. O julgamento teve início na segunda-feira (28 de novembro). E
terminou na madrugada desta segunda (5).
Um dos depoimentos mais importantes para o convencimento dos jurados
sobre o meio que impossibilitou a defesa da vítima foi o depoimento do
delegado Mauro Gomes Dias, então do DHPP, que, para ele, Elize atirou no
marido tão logo ele deixou o elevador carregando uma caixa de pizza.
Nem mesmo o argumento da defesa de haver um espelho na frente do
elevador, informação apresentada nos debates, conseguiu demover a
certeza do jurado sobre a tocaia.
A maioria dos jurados entendeu que Elize não esquartejou o marido ainda
em vida, como queria a Promotoria. A assassina confessa disse em seu
interrogatório que começou a cortar partes do corpo do marido pela manhã
de domingo, dia 20 de maio, cerca de 10 horas após atirar contra sua
cabeça. Na tarde de domingo (4) voltou a afirmar que fez isso logo após a
chegada da babá, por volta das 6h.
Pesou nessa decisão o depoimento do perito e legista Sami El Jundi,
ocorrido na sexta (2), que disse que a morte de Marcos foi instantânea
e, assim, não houve sofrimento -um dos pressupostos do motivo cruel.
"Ele morreu com o tiro", disse.
A terceira qualificadora apontada pela Promotoria era a motivação por
motivo torpe, um crime considerado repugnante. O Ministério Público
sustentou que Elize matou o marido por causa do dinheiro e por vingança
por conta da descoberta da amante. Isso, para o jurados, não ficou
provado.
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