O promotor de Justiça Avelino Grota, do Ministério Público do Estado
de São Paulo (MP-SP), usou o grupo “MP-SP Livre” para falar de pobres,
negros, babás e feios. “Quanto ao pobre, coitado, nasce feio e morrerá
feio porque não tem dinheiro nem para comer direito”, escreveu. O texto
foi postado entre os dias 25 e 26 de agosto. Nele, Avelino ‘convida à
reflexão’.
Ao jornal Estadão, ele afirmou que suas mensagens são
‘ironias’ contra a decisão judicial que arquivou investigação sobre a
exigência de clubes paulistanos para que as babás usem uniforme branco.
"E
negro, como todos sabem, tem o péssimo costume de não dar muita atenção
à higiene – tanto do corpo quanto da roupa.” Para Avelino, então, ‘o
uso da roupa branca pelas babás é uma solução muito adequada’.
O
promotor enumerou. “Em primeiro lugar, o branco é a cor da pureza, e, ao
usar roupa branca, a babá, que é feia, se transforma, ficando um
pouquinho menos feia – porque pureza não combina com feiura e, assim,
passamos a dar mais atenção ao puro branco da roupa do que à feiura de
quem a veste.”
“Em segundo lugar, roupa branca é a que suja com
mais facilidade, e, desse modo, o patrão da babá verá mais nitidamente
se a empregada está ou não limpa – e, se não estiver, ordenará imediata
troca de roupa, precedida, é claro, de um banho, o que tornará a babá
menos fedentina. Em terceiro lugar, roupa branca esquenta menos;
portanto, a babá suará menos; por conseguinte, federá menos.”
Segundo
a publicação, o procurador-geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo
Smanio – chefe do Ministério Público paulista – mandou abrir um
procedimento para investigar a fala do promotor.
Leia o texto dele:
“Domingos
convidam à reflexão, e, como não tinha muito o que fazer aqui em casa –
e trabalhar estava fora de cogitação -, passei a meditar sobre a
questão das babás e das roupas brancas que os clubes dos paulistanos
ricos exigem dessas profissionais. Analisei, ponderei e cheguei a
algumas conclusões. Vamos a elas. Pobre, em regra, é feio; babá, em
regra, é pobre; logo, babá, em regra, é feia.
Atentem que disse “em regra”, porque, devemos admitir, há pobre bonito; mas, visivelmente, isso é uma exceção.
Já
rico, se não nasce bonito, fica bonito com o tempo, porque o dinheiro
ajuda ao menos a corrigir alguns defeitos de nascença e os avanços
médicos nessa área são notáveis. Quanto ao pobre, coitado, nasce feio e
morrerá feio, porque não tem dinheiro suficiente nem para comer direito,
que dirá para suplantar as várias imperfeições que, unidas, formam e
conformam a feiura.
Aliás, pobre não tem dinheiro sequer
para se vestir direito, e suas roupas, assim, são também feias, o que
agrava a situação estética de quem as usa.
Pobre, ademais – e isso é notório -, costuma ser negro.
Negro
no sentido lato da classificação, o que inclui, além de que é preto, o
vasto contingente de pardos, dos mais clarinhos aos mais escurinhos.
E negro, como todos sabem, tem o péssimo costume de não dar muita atenção à higiene – tanto do corpo quanto da roupa.
Não se pode também deixar de registrar que a cor branca reflete o calor do sol, em vez de absorvê-lo.
É
por isso que negro, em geral, é catinguento, porque sua muito e, não
tomando a quantidade diária certa de banhos, acaba fedendo mais do que o
recomendável.
Daí porque o uso da roupa branca pelas babás é uma solução muito adequada.
Em
primeiro lugar, o branco é a cor da pureza, e, ao usar roupa branca, a
babá, que é feia, se transforma, ficando um pouquinho menos feia –
porque pureza não combina com feiura e, assim, passamos a dar mais
atenção ao puro branco da roupa do que à feiura de quem a veste.
Em
segundo lugar, roupa branca é a que suja com mais facilidade, e, desse
modo, o patrão da babá verá mais nitidamente se a empregada está ou não
limpa – e, se não estiver, ordenará imediata troca de roupa, precedida, é
claro, de um banho, o que tornará a babá menos fedentina.
Em terceiro lugar, roupa branca esquenta menos; portanto, a babá suará menos; por conseguinte, federá menos.
Em
quarto lugar, como geralmente repugna ao bonito dar de cara com o feio,
o uso de roupa branca permitirá aos mais sensíveis desviar-se a tempo
do caminho, evitando encarar a feia criatura que verga o traje branco.
Em
quinto e último lugar, a roupa branco também serve para que os novos
capitães-do-mato, que nos clubes de ricos, são chamados de seguranças
(e, mesmo sendo, em regra, negros, usam roupas pretas), possam ficar de
olho nas babás, não para fins libidinosos, como é próprio dessa gente,
mas para cuidar de que elas não se sentem em lugares proibidos a babás,
não entrem em lugares vedados a babás e mesmo não comam e não bebam
comidinhas e bebidinhas que babás não podem e não devem comer e beber.
Sei
que minhas reflexões podem não ter alcançados todo o espectro do
problema – afinal, domingo também clama pelo ócio e pela preguiça mental
-, tanto que, consultados alguns colegas, não encontrei ninguém que com
elas concordasse, e, ainda que viesse a entrevistar um por um todos os
promotores e procuradores, estou certo de que não acharia ninguém que
desse razão a este pensador dominical.
Estou tão
convicto, no entanto, da justeza de minhas ponderações e conclusões que
não poderia deixa-las apenas em minha cachola, motivo único de
compartilhá-las aqui no grupo.
Dito isso, e esperando ter contribuído para o regozijo geral, vamos à feijoada domingueira, que ninguém é de ferro.
Ao
jornal, o promotor disse que o texto é “ácido, sarcástico, irônico”.
“Eu procuro fazer uma crítica aos que, de alguma maneira, defendem a
obrigatoriedade do uniforme branco, como expressão de preconceito racial
ou racismo. Tenho 26 anos de Ministério Público. Ainda este mês devo
ser promovido a procurador. Há quatro anos atuo perante o Tribunal de
Justiça, designado na Procuradoria Criminal”, explica.
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David Gouveia Notícias
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