Mais um terreiro de candomblé foi
atacado por bandidos em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Sete
criminosos armados invadiram o barracão, no bairro Ambaí, durante uma
sessão. Eles obrigaram a yalorixá, sacerdotisa no local, a destruir as
próprias imagens sob a mira de uma arma.
Toda a ação foi gravada e divulgada pelos criminosos nas redes sociais.
Os "filhos de santo", como são chamados
os fiéis, foram obrigados a deixar o local. Criminosos usaram os canos
das armas para arrancar as "guias", um tipo de cordão, do pescoço deles.
Nas imagens, é possível ouvir os criminosos usando termos cristãos enquanto a mulher quebra as imagens sagradas.
'Quebra tudo, quebra tudo! Apaga as
velas, porque o sangue de Jesus tem poder! Arrebenta as guias todas!
Todo o mal tem que ser desfeito, em nome de Jesus! Quebra tudo porque a
senhora é quem é o "demônio-chefe"! É a senhora quem patrocina essa
cachorrada! Quebra tudo! Arrebenta as guias todas, derrama, quero que
quebre as guias todas!'
'É só um diálogo que eu tô tendo com
vocês, na próxima vez eu mato! Safadeza, pilantragem! Primeiramente é
Jesus! Quando vocês forem bater cabeça aí na casinha do cachorro, vocês
primeiro pedem licença a Jesus! Vocês não sabem que o "mano" não quer
macumba aqui? Tá peitando por quê? Por que a gente tirou a boca dali?
Arrebenta tudo! Eu sou da honra e glória de Jesus! Pensa por que eu não
tô na favela essa p*** vai continuar? Já avisei! Se eu pegar de novo ou
tentar construir esse c*** de novo, eu vou matar!'
As imagens de outro ataque também
circulam nas redes sociais. As primeiras informações obtidas pela
Comissão de Combate à Intolerância Religiosa apontam que o caso teria
ocorrido no Parque Flora, também em Nova Iguaçu. Na gravação, um homem é
obrigado por criminosos a destruir o próprio terreiro de candomblé.
Os bandidos ameaçam a vítima com um
bastão de beisebol onde está escrita a palavra 'diálogo'. Eles dizem
para a vítima que ela será morta, caso tente montar um novo terreiro na
favela. O grupo chega a gritar o nome de uma facção criminosa durante a
ação, além de citar o nome de Jesus Cristo e outros termos comuns em
cultos evangélicos.
Ativistas que defendem a liberdade
religiosa condenaram os novos casos de violência. O presidente da
comissão, Ivanir dos Santos, acredita que as ações registradas nos
últimos meses são conjuntas. Para ele, os criminosos atuam com base na
orientação de lideranças religiosas mal-intencionadas com o objetivo de
aumentar a influência sobre comunidades carentes.
'Essa é uma coisa muito bem orquestrada e
pensada até de ocupação de espaço geográfico. É sinal de que tem
algumas más lideranças religiosas metidas nisso. Porque o cidadão em si
ele não acorda, da noite pro dia, tem uma miragem, 'ah, Jesus mandou,
fui lá e fiz'. Não é isso que está acontecendo. Eles estão falando com
uma retórica, com um discurso muito bem contruído. Então alguém botou
isso na cabeça dessas pessoas.'
Ontem, o secretário de Segurança,
Roberto Sá, se reuniu com o secretário estadual de Direitos Humanos
Átila Nunes e o chefe da Polícia Civil, Carlos Leba, para discutir a
possível criação da Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de
Intolerância. Nós entramos em contato com a Polícia Civil por causa dos
dois vídeos, mas ainda não tivemos retorno.
Na semana passada, a CBN
exibiu dados do Tribunal de Justiça do Rio que mostram que, desde 2012,
o estado não registrou condenações por preconceito ou depredação de
itens religiosos.
Fonte: CBN
Nenhum comentário:
Postar um comentário