Gustavo Lima/Câmara dos Deputados - 18.2.2016
Eduardo Cunha foi o responsável pela abertura do processo
de impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff
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O ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha
(PMDB-RJ) afirma em sua primeira entrevista desde que foi preso que está pronto
para revelar tudo o que sabe para a nova procuradora-geral, Raquel Dodge. Cunha
ainda inocenta Michel Temer e critica o juiz Sérgio Moro, responsável pela
Operação Lava Jata em Curitiba.
A entrevista de
Eduardo Cunha foi publicada no site da revista “Época” na noite desta
sexta-feira (29). Nela, o ex-presidente da Câmara garante ter provas, datas,
fatos e testemunhas que comprovam tudo o que ele sabe. “Tenho histórias
quilométricas para contar, desde que haja boa-fé na negociação.”
Cunha acredita que Rodrigo Janot, ex-procurador-geral,
não queria a verdade, “só queria derrubar Michel Temer”, e, por isso, sua
delação premiada não deu certo. “Tenho muito a contar, mas não vou admitir o
que não fiz. Não recebi qualquer pagamento do Joesley para manter silêncio sobre qualquer coisa.
Janot queria que eu colocasse mentiras na delação para derrubar o Michel Temer.
Se vão derrubar ou não o Michel Temer, se ele fez algo de errado ou não, é
outra história. Mas não vão me usar para confirmar algo que não fiz, para
atender aos interesses políticos do Janot.”
O responsável pela abertura do processo de impeachment
contra a ex-presidente Dilma Rousseff garante que Janot operou politicamente o
processo de delações. Para ele, o ex-procurador geral viu em um possível
afastamento de Temer a oportunidade de colocar Nicolao Dino, seu vice, como seu
sucessor na PGR. “É nesse contexto que aparece aquela delação absurda da JBS.”
Delação JBS
Em delação premiada, o empresário Joesley Batista, do
grupo J&F, divulgou gravação com suposto aval de Temer para compra do
silêncio de Cunha . A informação polêmica
foi duramente criticada pelo ex-presidente da Câmara, que nega ter recebido
qualquer pagamento para manter silencio sobre qualquer assunto .
“O Joesley poupou muito o PT. Escondeu que nos reunimos,
eu e Joesley, quatro horas com o Lula, na véspera do impeachment. O Lula estava
tentando me convencer a parar o impeachment. Isso é só um pequeno exemplo. Eu
traria muitos fatos que tornariam inviável a delação da JBS. Tenho conhecimento
de omissões graves. Essa é uma das razões pelas quais minha delação não poderia
sair com o Janot.”
Cunha afirma também que os objetivos políticos de Janot
acabaram criando “uma trapalhada institucional”, que acabou culminando no áudio
da JBS. “O que eu tenho para falar ia arrebentar a delação da JBS e ia
debilitar a da Odebrecht. E agora posso acabar com a do Lúcio Funaro. ”
Prisão
Preso há quase um ano, Cunha considera a detenção como algo
absurdo. “Não me prenderam de acordo com a lei, para investigar ou porque
estivesse embaraçando os processos. Prenderam para ter um troféu político. O
outro troféu é o Lula.”
O ex-presidente da Câmara fala em um “troféu” para cada
lado, o Ministério Público” e o juiz Sérgio Moro, “um juiz que se acha salvador
da pátria”, como criticou o próprio Eduardo Cunha. “Ele quis montar uma
operação Mãos Limpas no Brasil – uma operação com objetivo político. Queria
destruir o establishment, a elite política. E conseguiu.”
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